Devastado por um dos piores incêndios de sua história, o
Pantanal já perdeu 10,3% da cobertura vegetal, uma tragédia que só deve
terminar em outubro, com fim do período seco. Especialistas afirmam que ainda é
cedo pra avaliar a dimensão total da tragédia. Eles advertem que a regeneração
da flora é incerta e pode levar décadas.
Desde o início do ano até sexta-feira (14), o fogo já havia destruído 1,55 milhão de hectares, área equivalente a dez municípios de São Paulo.
O bioma do Pantanal, localizado entre os estados de Mato
Grosso e Mato Grosso Sul, soma cerca de 15 milhões de hectares. Os dados são do
Ibama, do Ministério do Meio Ambiente.
"O incêndio diminui a diversidade da flora",
afirma a ecóloga Catia Nunes da Cunha, 65, da Universidade Federal de Mato
Grosso (UFMT). "É um dano muito grande. [A recuperação] vai depender de
onde, na natureza, tem bancos de semente pra repor. Isso pode levar 30, 40
anos."
Natural da região, Cunha explica que há dois tipos de
flora no Pantanal: o cerrado, mais resiliente à estiagem e ao fogo, e a
vegetação que margeia lagoas, rios e outros cursos d'água, com mais afinidade
para a umidade.
Segundo ela, a restauração no pantanal de Poconé (MT)
dependerá da proteção dos "hotspots" de sementes localizados na
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal. Trata-se da
maior área protegida desse gênero no país, com 108 mil hectares de vegetação
nativa.
"Numa situação de anos de extrema estiagem, quando
vier um período mais úmido, ela tem o banco de sementes para funcionar",
afirma a ecóloga.
O problema é que a RPPN é uma das áreas mais devastadas–
já perdeu cerca de um terço de sua cobertura vegetal. Num incêndio com essas
proporções, mesmo o cerrado enfrenta dificuldades para se regenerar.
"O fogo é natural quando ocorre no tempo e na
circunstância natural –a partir de um raio, por exemplo", diz a gerente de
Pesquisa e Meio Ambiente do Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália, responsável pela
RPPN, maior unidade de conservação privada do país.
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