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sábado, 16 de janeiro de 2021

“Aqui em Manaus não é segunda onda, é o tsunami inteiro. Não deixem isso acontecer no resto do país”

Manaus se prepara para um fim de semana de angústia. Depois de viver o dia mais dramático da pandemia ―quando o oxigênio acabou em vários hospitais e profissionais de saúde precisaram ventilar pacientes no braço (ou ambuzá-los, no jargão médico)― a crise segue aguda e sem perspectiva de quando deverá ser controlada. O Amazonas só consegue produzir um terço da demanda do insumo e enfrenta dificuldades logísticas para fazê-lo chegar rapidamente de outros Estados. O desabastecimento de oxigênio avançou rumo ao interior do Amazonas e em outros pronto socorros da capital e até na rede privada. Em Manaus, familiares passavam horas em filas para tentar comprar o insumo para pacientes. O colapso do sistema de saúde afetou os pacientes com covid-19 e com outras doenças. O Amazonas precisou pedir socorro para transferir 61 bebês prematuros que precisavam de UTI pela manhã. À noite, o Governo Federal disse ter garantido oxigênio suficiente para mantê-los por mais 48 horas no Estado, um conta-gotas desesperador que ganhou manchetes pelo mundo.

“Estamos demonstrando como não deixar isso acontecer com o resto do país. Aqui não é segunda onda, é o tsunami inteiro”, diz uma médica da linha de frente que preferiu não se identificar. Ela trabalha nas redes pública e privada de Manaus e conta que em ambos o cenário é ruim. Hospitais públicos receberam 100 cilindros de oxigênio na manhã desta sexta-feira―vindos com ajuda do Governo Federal e também de doações―, mas o que chega vai sendo consumido rapidamente diante do grande volume de pacientes. O cenário é de incerteza. “Ainda esperamos se vão conseguir abastecer novamente. A ansiedade é o que reina entre nós, profissionais de saúde, porque a gente não sabe se vai durar ou não, se vai ter reposição”, diz.

Enquanto isso, médicos relatam sensação de impotência e se preparam caso haja a necessidade de ambuzar os pacientes novamente, o termo usado para tentar ventilar manualmente para tentar fazer chegar o ar aos pulmões. Tentam racionar ao máximo o oxigênio disponível, reduzindo as quantidades em pacientes com menos chance de sobreviver. “Escolher quem vive e quem morre não deveria ser nosso papel”, segue esta médica de Manaus. Alguns hospitais concentraram todo o insumo que chegava em um único andar para aumentar a pressão na tubulação e ter maior aproveitamento. “Você consegue imaginar um local cheio de pessoas, todas dependentes de oxigênio, bem mais de 100 pessoas, e de repente a iminência de faltar isso?”, pergunta a médica, que vê ―incrédula com a falta de planejamento dos governantes― uma situação de guerra. Fonte: EL País.

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