Mais uma vez os caciques do PMDB Renan Calheiros (AL) e
Romero Jucá (RR) entraram em confronto público diante da disputa pelo controle
do partido. Após discurso agressivo de Renan contra o governo Temer e a reforma
trabalhista, Jucá reagiu em defesa do presidente e ameaçou retirar o colega da
liderança da legenda.
A animosidade começou quando o senador Magno Malta
(PR-ES), que é da base do governo, questionou Jucá sobre a medida provisória
que garantiria as modificações na reforma trabalhista. Segundo o senador, se o
governo não apresentar esse texto, não deve contar com o voto dele no projeto.
Renan aproveitou o ensejo para criticar a reforma e questionar a credibilidade
do governo.
“Temer não tem confiança da sociedade para fazer essa
reforma trabalhista na calada da noite, atropeladamente. Num momento em que o
Ministério Público, certo ou errado, apresenta uma denúncia contra o
presidente, não há como fazer uma reforma que pune a população”, afirmou.
Em referência a encontro realizado nesta terça, 27, na
residência oficial do Senado, Renan chegou a sugerir que o presidente da Casa,
Eunício Oliveira (PMDB-CE), realizasse reunião semelhante para discutir se o
Senado vai continuar com a pauta do governo.
“O senhor poderia organizar um almoço para conversarmos
sobre uma saída para o Brasil. Para conversar se vamos continuar com essa gente
fingindo que governa o País”, disse. Renan fez um apelo para que fosse adiada a
votação da reforma trabalhista na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ),
agendada para esta quarta-feira, 28.
O líder do PMDB chegou a ameaçar fazer trocas na
composição da bancada do PMDB na CCJ, de modo a alterar o resultado da votação.
“Um presidente desgastado não pode dizer que o Senado tem que votar essa
reforma. Se o jogo for esse, vou admitir mudanças na composição da CCJ.”
O presidente do PMDB não deixou por menos. Jucá ameaçou
retirar Renan da liderança do PMDB. Ele alegou que a reforma trabalhista não é
uma pauta de Temer, mas do País, e relembrou que a votação na CCJ foi definida
em acordo com a oposição.
“A posição do senador Renan sobre mudar membros da CCJ me
estranha. Fizemos uma reunião de bancada em que, por 17 votos a 5, decidimos
pelo apoio às reformas e pela manutenção de Renan na liderança do PMDB. Se
Renan mudar membros da CCJ, podemos mudar liderança do PMDB”, disse Jucá.
Renan rebateu dizendo que não fez nenhum acordo para
retirar direitos dos trabalhadores. Ele afirmou ainda que, se não tiver
liberdade para alterar nomes na CCJ – respeitando a proporção da bancada -,
também não vai mais querer liderar o PMDB.
Eduardo Cunha. Renan deixou as críticas mais pesadas
ao governo para o final. “O senador Jucá não pode debitar do PMDB o custo de
sustentar um governo sem nenhuma credibilidade. Esse governo que está aí não
tem condições nenhuma de propor essas reformas”, disse.
Em referência ao deputado cassado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), e à gravação pela qual o presidente Michel Temer foi denunciado,
Renan afirma que maior erro do presidente foi se deixar influenciar pelo
ex-deputado.
“O presidente Michel Temer tem que entender que ficar à
frente do governo sem fortalecer os demais Poderes não adianta em nada. O erro
de Michel Temer foi achar que poderia governar influenciado por um presidiário
em Curitiba, um presidiário em cárcere recebendo dinheiro. Isso nunca iria
chegar a lugar algum”, afirmou.
Estadão