O sociólogo, escritor e
cientista político Sérgio Abranches, especialista em Ecopolítica, disse nesta
terça-feira, no Recife, em palestra no RioMar Shopping, sob o tema “O cenário
político-econômico diante da crise de água e energia”, que o Brasil não tem
como fugir de racionamentos de energia e de água no segundo semestre.
“Vai ter racionamento de
água e energia no Brasil com toda certeza. Podem fazer apagões, podem mentir,
mas vai ter. O atual nível dos reservatórios está bem abaixo do que estávamos
em 2014 e o período de chuvas está passando”, justificou. “Não vamos conseguir
sustentar a situação e vamos ter que acionar as térmicas, mais caras. Não vai
dar para reprimir o custo disto na inflação, como se fez no ano eleitoral”,
disse, prevendo que as hidrelétricas vão parar no segundo semestre deste ano.
Quando falou da crise
hídrica no Sudeste, Sérgio Abranches afirmou que a bacia do Cantareira não tem
água por um motivo simples e ele não é a estiagem. Ele reclamou de mananciais e
reservatórios desprotegidos e mal cuidados. “A bacia foi mal tratada. Não tem
mais cobertura vegetal nem se fez reflorestamento. A seca do Sudeste mostrou
que o problema não existe só na literatura. Aliás, no Sudeste, o nome não é
seca. Quem sabe por preconceito (com o Nordeste), o nome é crise hídrica”,
brincou.
Na sua palestra, o
especialista em sustentabilidade defendeu que a água deveria ser mais cara para
produção, em especial a irrigação, que poderia buscar ser mais eficiente. Esse
consumo perdulário também deveria ser combatido com a redução das perdas de
águas produzidas pelas concessionárias. Outra sugestão apresentada seria
discriminar a origem da energia consumida, de modo a incentivar a compra de
energia limpa e de outras fontes. “Nós não sabemos a energia que chega a nossa
casa. Vem misturado o sujo e o limpo. O governo entrega um pacote caro e
péssimo”, comparou.
A saída para o Nordeste,
na sua avaliação, seria apostar fortemente na energia eólica e solar, com mais
placas voltaicas. Ele defendeu que a alternativa, especialmente o agreste, gera
até mais empregos do que a opção hidrelétrica, que dispensa um grande volume de
trabalhadores quando os reservatórios são concluídos.
No evento, o palestrante
desancou ainda o projeto da transposição do são Francisco, afirmando que era um
crime demagógico e que não ajudaria a região. “Não se faz transposição de
areia. Deveriam ter feito a recuperação do rio primeiro”, defendeu.
Nesta encruzilhada, como
deveria ser arbitrado a questão do uso múltiplo das águas do São Francisco?
Para o especialista, o governo deveria fazer como os americanos da Califórnia.
“Não tem demagogia. Eles oferecem 25% da demanda de água e a prioridade é o uso
humano, que é o uso mais nobre, essencial. A agricultura tem que produzir de
modo mais inteligente, eficiente. Tem que aprender a racionalizar, pois a seca
vai piorar. O Nordeste pode ficar rico fazendo uso de energia limpa, usando o
sol e os ventos. Usem”, incentivou.